quinta-feira, 14 de abril de 2011

All Star

Estranho seria se o sal dessas lágrimas viesse doce agora. Não sinto mais esse gosto... O gosto doce de um chocolate dividido no rápido intervalo. O gosto do mais saboroso beijo, conquistado da forma mais contrária. De lábios novos, da pessoa mais doce...
           Explodo-me em lágrimas. Lágrimas guardadas, acumuladas em um coração já adulto que sofre por teimar em brincar. Queria continuar aquela conversa de ontem, não podia aceitar o fim. Não sabia se devia, mas quando dei por mim, já estava no elevador.
           Você sorriu, embora assustado. Eu entrei e logo vi, em cima da estante: dois livros e minha gravata. Estariam essas coisas já separadas para que eu viesse buscá-las? Doi a certeza, doem também as dúvidas. Mas ainda mais estranho seria poder esquecer tudo isso, ou melhor, não ter nem começado essa história, cujo fim já havia sido alertado a mim. Já pudera prever esse fim. Esse momento em que, de tudo, eu viraria mais o velho que o amigo. Não acredito em amizade sem protecionismo. Não poderia explicar as aulas particulares, privilégios de quem?
           Eu, vilão de minha própria ética, ainda não contestada. Não é só mais uma visita. Não vamos ver mapas, nem vou te contar de terras, de descobertas. Hoje, não avisto nada em seu olhar. Em silêncio, pego minhas coisas. Você hoje poupa seu vocabulário tão cheio de gírias.  Saio ainda em silêncio, você se despede com um abraço.
           Esse é o fim da história, da minha mais terrível contradição. Eu, sempre tão dono de mim, hoje choro não poder viver meu mais desejado erro. Nada combina entre nós. Nossa roupa, nossa idade, nossos gostos. Você arrancava os tênis, e eu os sapatos.
           Eu precisava ter visto, entrado e sentido pela última vez teu corpo tão próximo ao meu. E agora, dentro do carro, a única coisa que me falta é sair desse bairro, que hoje deve rir satisfeito por minha partida.
           Sinto-me um estranho ao olhar o retrovisor. Agora sei que sou estranho também para você. Minhas lágrimas, salgadas e incontidas só mostram-me a mais certa afirmação: para o fim da história: ainda mais estranho seria se um professor nunca tivesse se apaixonado por um aluno.

Inspirado na música de Nando Reis.

3 comentários:

  1. paulo henrique dos santos(Biá)14 de abril de 2011 às 19:24

    lindo demaissssssssssssss parabens olha sou fa de vcs beijaum!!!!!!!!!!

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  2. Esse texto, me emocionou de uma forma impressionante, realmentre o mais lindo, muito bom, cada palavra tão bem encaixada, tão bem formulada, resultado impecável, cheio de beleza e carregado de emoção, parabénsss, realmente um lindo trabalho!!!!

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  3. O clichê se sustenta pela coisa já batida, comum a todos? Quem nunca se apaixonou? Realmente a paixão, sentimento tão arrebatador entorta-nos, tira o norte.
    Acho que cada vez mais as pessoas se encantam menos com as outras, talvez pela praticidade, pelo medo do contato e suas consequências, sei lá o quê... Apaixonar-se é se permitir à entrega total e um f... pro resto.
    Ótima leitura da canção, Dessa. O velho clichê do truque do desejo, da trapaça, até mesmo numa relação dita profissional...

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