domingo, 20 de março de 2011

Flor da Pele

          Às vezes ele andava por aí, caminhando com seus próprios passos, sem saber muitas vezes por onde caminhava, ou até mesmo pra onde ia. Questionava-se, e questionava as coisas que o acompanhavam sem mesmo sair do lugar. Por que coisas sempre dependem de outras coisas pra serem alguma coisa?
         A criança, para ser feita, precisa de uma parte do homem e outra da mulher. Precisa também de coisas que a ensinarão a falar, a caminhar, aprender a "ser" alguém. Alguém precisa sempre de alguém, pra se tornar alguém que nem saberá quem. 
         Ele caminhava em um dia frio, e pensava que talvez o frio precisasse dele todo agasalhado pra ser realmente frio, bobagem. E frio só precisa de falta de calor. Será então que o frio não existia? Então é assim, pra que uma coisa exista, ela não precisa de outra, porque às vezes a falta de uma coisa faz com que outra exista.
          A solidão é a falta de alguém do seu lado, mas ele estava tão à flor da pele que não se concentrava nisso, apenas sentia a barriga gelada e a garganta seca, talvez pela falta de resposta pra tanta coisa.
          Ele lembrou do beijo da novela que o fez chorar sem ele saber porque, e percebeu que estava à flor da pele, à espera de um pássaro que viesse beijá-lo. Olhou para uma janela e diminuiu os passos. Havia alguém ali, com o olhar longe, pensou que poderia ser pra ele, isso o faria morrer.
          Seu desejo se confundia com a vontade de algo que ele desconhecia. Mas porque tinha que existir algo? Ele agora sabia para onde ia, queria entrar no velho barco. Estava cansado, não ao ponto de acreditar em alguém, apenas cansado.
         Chegou lá então, e foi logo lendo a placa de destino, não estava escrito nada, muito comum pra um barco sem porto, pra que teria que ter um destino se nem mesmo tinha vela.
          Ficou ali, sentindo o mesmo frio no rosto e se preservando de sentir mais alguma coisa. Olhou para baixo, o barco tão rápido movia a água de forma linda, ela precisava dele pra estar assim.
          Ele sentiu vontade de  conhecer aquilo mais a fundo, então ele se foi, quem sabe voltaria, ou talvez nunca mais.
          Seu suicídio precisava da água pra existir... coisas sempre precisam de coisas.

Inspirado na música de Zeca Baleiro.

5 comentários:

  1. Este é um pouco tristinho, estou louco para ler um caliente agora!!!!

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  2. paulo henrique dos santos(Biá)21 de março de 2011 às 19:22

    legal o trabalho de vcs,meus parabens!!!!

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  3. O vento e a caminhada. Andar contra o vento seria a solução? Desafiar essa força invisível que nos ronda. Uns chamam de amor. Outros de Deus. O vento frio arrepia a pele. À flor da pele. Aqueles dias em que as emoções parecem querer explodir e um beijo de novela é razão suficiente para que se desabe em águas. Mas poderia chorar diante de um comercial qualquer. Talvez de um barco, e de novo as águas. Vento, água... As figuras do seu texto me fizeram viajar, sentir. Talvez eu esteja também à flor da pele. Isso em mulheres pode até ser tpm... rs!
    Parabéns pelo surpreendentemente belo texto. E digo mais, melhor ainda foi ouvir você me contar essa história.

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  4. Lindooooooooooooo, simplesmente lindo, qta emoção, nossa fiquei muito feliz, muito emocionado em le-lo, e ja que coisas precisam de coisas, vcs são as coisas que preciso pra existir, parabéns pelo texto lindo meu amigo irmão!!!

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  5. paulo henrique dos santos(Biá)23 de março de 2011 às 20:06

    quando sai o novo testo,aew deixo aew pra vcs uma dica o vento dos los hermanos abrçaummmmmmmmm

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