quarta-feira, 25 de maio de 2011

A maçã

     “Se eu te amo e tu me amas, um amor a dois profana, o amor de todos os mortais...”

     Parecia simples pra ela pensar assim, porque desde que cresceu sonhou com a chegada do seu príncipe encantado, aquele que seria apenas dela... apenas dela?
     Quando cresceu descobriu que os príncipes encantados não existem, o que existe são apenas mortais, são maçãs, que no fundo são todas iguais, assim como ela, em busca de algo maior, em busca de um amor verdadeiro, em busca do “pra sempre”... mas pra sempre parecia longe demais.
     A beleza dele era incomparável, algo que jamais havia visto, e quando trocaram as primeiras palavras a paixão foi a primeira vista... a paixão.
     Ela sabia que era muito cobiçado, sabia que bastava chamar que outra logo aparecia, mas resolveu arriscar, mesmo sem saber lidar muito bem com o até então novo sentimento de ... ciúmes??
     O que seria o ciúmes? É correto prender alguém como um santo no altar, em um mundo tão cheio de possibilidades?
     Sua família era contra esse romance, até porque o príncipe parecia maduro demais pra mocinha, que juntos resolveram cuidar de suas próprias vidas, e sem ninguém saber fugiram, pra longe e pra sempre...pra sempre...
     Os anos se passaram, ela estava cada vez mais ligada nesse amor que parecia só crescer, ela já sabia que ele era o escolhido pra morar junto dela, e ela queria tudo, queria o possuir de todas as maneiras, de todas as formas, queria tua alma, teu corpo, queria ele completo, mas algo ali dentro dizia que isso não era tão simples assim, porque além dos dois existia muita gente do lado de fora daquilo que ela construiu... triste pensar nisso, ou seria também a sua oportunidade de saber quem são essas pessoas?
     Aquilo ainda era muito confuso pra ela, tudo se bagunçava em sua cabeça... esperava por horas ele chegar de madrugada dizendo que estava com os amigos, procurava em seus bolsos algo que pudesse o condenar pra sempre, ela queria encontrar algum motivo que justificasse tudo que sentia... mas não encontrava e aquilo estava a corroendo. O fato de estar longe de sua família e ninguém poder saber desse romance piorava a situação.
     O tempo parecia passar rápido demais, parecia que ontem eles haviam trocado o primeiro olá, parecia que semana passada ela havia mudado toda a sua vida pra morar com alguém que tinha certeza ser só dela.
Sim, ela estava enlouquecendo e não se deu conta disso, ela continuava buscando provas, procurando razões, e resolveu ser mais direta...
     - Você me trairia?
     - Se esse amor ficar entre nós dois, vai ser tão pobre amor, vai se gastar...
     Ela agora sabia o que procurava, revirou as gavetas, encontrou o que queria e tudo se silenciou ao som de dois tiros...
     Ela o libertou, talvez assim o amor durasse pra sempre... e vendo ele deitado no chão da sala se sentiu satisfeita em saber que não mais o privaria do que mais venerava, a beleza de deitar...
     Alguns anos depois, a princesa parecia viver a verdadeira fábula, estava presa em sua torre, a espera de algo que pudesse a resgatar, não dali, mas da vida...
     Um dia foi surpreendida por uma visita de um familiar, que depois de muito procurar a encontrou, ele trazia algo pra ela... um bilhete que tinha sido encontrado nas coisas dele... sem entender muito ela abriu aquele papel já bem amassado e com os olhos cheios de lágrimas viu que era sim a sua letra... e o bilhete dizia palavras que talvez ela nunca quisesse ouvir:

     “Quer se casar comigo? Agora esse amor já não mais ficará entre nós dois, vai ser tão rico amor... vai aumentar!!”

Inspirado na música de Raul Seixas e Paulo Coelho.




Um comentário:

  1. Como te disse, adorei sua criatividade para escrever o texto. Parabéns!

    )))Quanto aos relacionamentos, o melhor é não criar expectativas. Aceitar o outro como ele realmente é. E aproveitar cada ato espontâneo que te oferece.

    Querer que ele queira o que você quer. Se escrever isso é já confuso, exigir na vida real é pior.

    )))Importante: saber em qual tempo das Maçãs estamos:

    )))Se tempo de Maçãs Verdes ))) Siga.

    )))Quando tempo de Maçã Vermelha ))) Pare.

    Acima de tudo é necessário reconhecer qual Maçã é Verde e qual é Vermelha.

    Além de ter ciência de que esse fruto nasce em árvores. Enquanto houver árvores, haverá Maçãs.

    Quem se afoba e come muitas, uma hora terá indigestão.

    Pra terminar: Enquanto fruto da natureza, respeita um ciclo de vida. Aproveite enquanto a Maçã oferece condições de extrair suco, de fazer tortas... E reconheça que quando o ciclo chega ao fim, no máximo pode-se alimentar pássaros com ela. E o que sobra? Lixo.

    Hora de se preparar para dar espaço a uma nova Maçã.

    Beijos.
    Lê. (Ou, se preferir, Maçã.)

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