terça-feira, 21 de junho de 2011

Natália

          E agora está tudo cinza, e que ironia, a pauta de hoje são as cinzas do Vulcão chileno, que invade o Uruguai , a Argentina, o Brasil, que invade minha vida. Você levou as cores de seus quadros, as cores do meu quarto, as cores dos meus dias, e tudo que sinto é saudade. Mas vamos falar de pesticidas, de tragédias radioativas. Aqui sentado nessa solidão cortante não consigo escrever nenhuma palavra para minha matéria. A solidão que sempre me foi uma excelente companhia nas horas produtivas de trabalho, agora imposta de encontro com o desejo de sentir sua pele e poder cantar seu nome, me dói como a falta de esperança. Quando a tristeza é sempre o ponto de partida, quando tudo é solidão é preciso acreditar num novo dia, você me diria, e eu responderia com a voz cheia: mágoa, ódio ou rancor, que ter esperança é hipocrisia, a felicidade é uma mentira, e será mesmo que a mentira é a salvação do mundo?
          Assumo meus erros, embora fossem cometidos todos iguais, talvez com menos frieza, menos rigor, os erros cometidos com amor são mais facilmente perdoados, notamos pelos crimes passionais, desculpe-me pela minha falta de passionalidade, mas eu, tão conhecedor dos males alheios não sou capaz de conhecer minha própria história. Foram a praticidade, frieza, e autocontrole que conquistaram a menina de nome cantado, de olhos tão negros que escondiam toda a beleza de sua arte. Mas conviver com o mistério foi nossa sentença, não conseguimos, decifrarmos e fomos devorados pela ânsia da vaidade de possuirmos, esse é meu declínio, e você, menina do nome lírico, minha doce Natália, tem o mundo em suas abstrações, possui agora todas as cores da minha vida, e minha razão e coerência invejam sua fantasia de que antes nunca pude falar.
          Eu não te dei nada além do meu silêncio, a ética da minha tola profissão, ou quem sabe o medo de amar, não me fizeram capaz de adorá-la e você não foi corrompida, não bebeu desse sangue imundo. E agora é tanta confusão que não consigo pensar, o vulcão vai ficar pra depois, talvez eu me aposente, talvez eu adormeça, talvez eu morra ou vire músico e ai então, quem sabe um dia eu escreva uma canção pra você.

Inspirado na música de Renato Russo.

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