quinta-feira, 31 de março de 2011

Angra dos Reis

Não me importo em atribuir-lhe o peso da culpa, queria poder te expulsar, mas estou diretamente ligado a você e é só questão de tempo para desaparecermos. Agora é o que temos: somente um ao outro, você fez questão que fosse assim. Não pensou que poderíamos precisar de alguém para dar os remédios, ler poesia, contar uma história? Você nos condenou à solidão e agora esperamos as estrelas caírem, sinto saudade de quando éramos apenas um, ou éramos apenas você, meu lado são, alegre e desmedido. Irresponsável, contaminável, foi isso que você foi, queria abraçar o mundo? Pois é, agora fazemos parte desse caráter pandêmico, de certa forma você conseguiu. Seu coração perfeito ainda bate, bate no compasso de uma marcha fúnebre, bate à toa, e isso dói.
Tem dias em que tudo está em paz, e agora é só o calor de nossa febre que queima as infecções plantadas, que queima tudo ao redor, que queima nossa esperança. Tenho medo, olho pro céu e precipito nosso fim, a culpa é toda sua e nunca foi...
Pensou que não haveria perigo brincar nessa usina nuclear, onde o sexo, as drogas e até mesmo sua coragem eram radioatividade pura? Sua imprudência agora mutila todos os descendentes que nunca chegaremos a ter, deixa pra lá, a angra que é dos reis.
Vai ver que não é nada disso, vai ver que eu já nem sei quem sou, noto você partindo e grito a um monstro invisível, me diz, me diz pra onde eu devo fugir. Tarde demais, pode rir agora que estou sozinho e mesmo contrariando os meus desejos, eu sei que é você quem vai voltar, que é você quem vai roubar-me a vida.

Inspirado na música de Renato Russo, Renato Rocha e Marcelo Bonfá.

3 comentários:

  1. paulo henrique dos santos(Biá)2 de abril de 2011 às 19:31

    mermão to arrepiado cara muito bom muito bom mesmo parabens!!!!abraçaum

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  2. Perfeita adaptação, Cezar. Curti muito mesmo! Parabéns! Superando-se e surpreendendo sempre.

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  3. Tem palavras que penetram em nós, pelos caminhos deixados pela ferida talvez nunca fechada, apenas disfarçada. Seu texto me levou pra tantos lugares que nem sei dizer quais...parabéns!!!

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