quarta-feira, 9 de março de 2011

Vamos fazer um filme

    Não quis acreditar que tinha sido há tanto tempo atrás. Dezoito anos passaram. Dezoito anos tinha naquela foto. Terceiro ano colegial, como se falava. Último ano do ensino médio, último passo antes da faculdade, ou do exército, ou tanto faz. O importante é que naquela época, naquele ano, ele ainda não tinha muitas perspectivas acerca do futuro do seu mundo.
          Paulinho, 18 anos. De cara lisa, de coração aberto. Um meio sorriso, meio torto, meio sem graça. Fotos 3x4 são assim mesmo, nunca se sabe que cara fazer. Seriedade ou dentes cerrados talvez soassem falsos demais. Pensou em fazer tantas expressões. Pose de homem, que agora era. Mas o clique é muito rápido, e na hora saiu aquilo, aquele meio sorriso, aquela boca torta.
          Com 18 anos, precisaria de novos documentos. Aquela foto 3x4 talvez tenha sido para a habilitação. Reservista, ou talvez para alguma matrícula. Detalhes que o tempo apagou da memória. Lembrava de coisas mais importantes daquele ano.  O colégio...
         Desde pequeno, desde sempre. Sempre estudara ali, pelo menos sempre que se lembrasse. Viu reformas, viu mudanças na diretoria. Viu a grande árvore do pátio ser cortada. Foi assim também com colegas, quase sempre os mesmos. Geralmente, é assim que as coisas acontecem em cidade pequena. Muitos conhecidos, muitos amigos de infância.
          Da turma do colégio, alguns eram seus vizinhos. Mais alguns eram filhos de colegas de trabalho dos pais. E quase, quase todos mesmo, tinham estudado juntos desde a infância. Uma turma legal, de pessoas que também se encontram fora das paredes da sala de aula. Vão ao cinema, ao parque, à praia. Alguns casais se formaram, alguns se desfizeram. Coisas normais de juventude, de pessoas de verdade.
          Paulinho tenta se recordar e força a memória em busca de imagens. Lembra da comissão de formatura. Das rifas, bingos e outras atividades nem sempre tão simples para arrecadar dinheiro. Planos mirabolantes de quem tinha, e acreditava em sonhos. Queria fazer cinema. Alguns colegas, engenharia. Nenhum optou por medicina, pelo que ele sabia. Planejavam viagens, reencontros semestrais da turma. Não podiam deixar que o tempo, ou a distância os separassem. Não aconteceria isso, eles eram unidos demais. Seria fácil...
           Agora, com tantos filmes feitos, Paulinho só se importa com aquela história que nunca foi contada, nunca foi reproduzida em tela nenhuma. O verão acabou cedo, muitas decisões a serem tomadas. Faculdade, exército, tanto faz.
           Nunca houve nenhum encontro depois daquele ano. Todos estavam ocupados demais e para ele, vê-los não era mais uma necessidade. O tempo sempre passa, os momentos antes despretensiosos, agora vazios e sem sentido. As histórias só valem a pena quando vividas na época certa. Tudo tem seu tempo, e o tempo de imaturidade já se foi. Sem um milhão de amigos, sem os irmãos e as irmãs. Era tão fácil, era somente existir, ser. E eles eram, só isso. Eram amigos, eram cúmplices, eram muito mais que isso.
            Hoje em dia, ele pensa, é tão raro alguém saber exatamente como se diz “Eu te amo”. Não há pessoas em que se veja beleza e fantasia. Impossível então é tentar começar de novo, não há mais um por todos, nem todos por um...

Inspirado na música de Renato Russo

6 comentários:

  1. Ai esse texto faz nos remeter as nossas escolhas, de nosso tempo. Enquanto imaginavamos uma fortaleza que se abriria aos nossos pes, e ao contrario muitos obstaculos se formam no percurso de ser "gente grande". Mas nessa minha pequena caminhada percebi que um Eu te amo, as vezes eh tao simples de ser dito. Mas tao diicil de ser vivido, e pude desfrutar o amor, das varias e infinitas maneiras de amar. E hoje as pessoas com as quais eu amo, estao sempre dentro de mim.
    LOVE
    cAROLINE RAMOS

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  2. Saudade de vida, é o que seu texto me causa,tão despretensioso e belo, Parabéns!!!

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  3. Nostalgia,saudade, lembranças, pessoas, momentos... esse texto deixa claro que felicidade, assim como liberdade, entre outros sentimentos são Utópicos e tão particulares...

    Parabéns... orgulhoso e ansioso em fazer parte desse Blog!!!

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  4. Eis que Andressa inaugura o arquivo do blog com um texto tão especial. Quando se olha pra trás, inevitavelmente todos caem naquele velho clichê da saudade e da distância. É comum nos surpreendermos com nós mesmos, fazendo essa volta no passado. Todos tem seus sonhos frustrados, seus amores mal resolvidos, seus sonhos caídos pela estrada. Parabéns!

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  5. Lindo texto... Parabéns Andressa.
    Espero que possam atualizar sempre que possível. =*

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  6. paulo henrique dos santos(Biá)3 de abril de 2011 às 08:09

    olha eu so fa incondicional de vcs todos viu,e fiko ancioso a cada texto meus parabens viu dessa vcs sau d+ abraçaum!!!!!

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